sábado, 15 de agosto de 2015

Isolado no trabalho, surdo cria escola para ensinar língua de sinais.

 





Empresário surdo cria escola para ensinar língua de sinais
Em 2009, Éden Veloso, 38, fundou em Curitiba a editora Mão Sinais, com a proposta de ensinar a língua de sinais para surdos e pessoas sem deficiência auditiva; hoje, a empresa também é escola e tem cerca de cem alunos, apenas um surdo; clique nas imagens acima e conheça a empresa Lucas Pontes/UOL
O sentimento de inadequação foi o ponto de partida para o curitibano Éden Veloso, 38, investir em um negócio próprio. Ele é surdo e, quando trabalhou em uma multinacional, sofria preconceito e tinha dificuldade para se comunicar com os colegas.
"Nenhuma pessoa da empresa sabia libras [língua brasileira de sinais], não tinha comunicação nem com os funcionários nem com os supervisores da área de produção. Todos sabiam que eu era surdo e me colocavam apelidos como mudinho, macaco", contou o hoje empresário, que percebia as ofensas por leitura labial.
Formado em letras, resolveu então, em 2009, que se dedicaria às aulas de libras para que as empresas passassem a se comunicar com os surdos. Para isso, teve de criar o material didático e assim começou a Mão Sinais, em Curitiba.
O livro com DVD "Aprenda Libras com Rapidez e Eficiência" custa R$ 30 e já vendeu mais de 45 mil exemplares, diz Veloso. Com o dinheiro do material, o empresário abriu a escola de língua de sinais, que tem hoje cerca de cem alunos –apenas um deles é deficiente auditivo.
O interesse de pessoas sem deficiência em aprender libras surpreendeu quem esperava que o negócio não fosse durar. "Muitos falavam que era jogar dinheiro no lixo, pois ninguém tinha interesse em aprender uma língua pouco divulgada", lembra Veloso, que considera esse o diferencial de sua empresa.
O empresário não revela o faturamento, mas cobra de R$ 110 a R$ 130 mensais por quatro horas de aula semanais. A escola também presta serviços de intérpretes e realiza cursos de capacitação para empresas. O trabalho ajuda a dar fôlego financeiro à escola, que só com as aulas ainda não se mantém.

Público interessado é restrito, mas foco pode ser segredo do negócio

Rodrigo Vianna, consultor do Sebrae-PR (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Paraná), e Cassio Spina, fundador da aceleradora Anjos do Brasil, dizem que o número de produtos e serviços criados para atender a deficientes é pequeno e isso pode ser uma vantagem.
Segundo Spina, soluções voltadas ao público com necessidades especiais são minoria. Por isso, empresas que atendem a essa demanda podem virar referência e ter um público fiel.
Para Vianna, embora o negócio possa parecer segmentado, ele avalia que o mercado tem demanda, principalmente na internet. "O fato de estar em Curitiba faz com que menos pessoas tenham acesso. A expansão para a internet é um caminho natural e que fará toda a diferença para crescer. O mais difícil, que é a ideia e criar conteúdo, isso ele já tem."
Esse é o objetivo de Veloso, que pensa em investir em educação a distância para aumentar seus negócios.

27% de brasileiros com deficiência trabalham por conta própria

A dificuldade para encontrar trabalho e empresas adequadas para receber funcionários com deficiência não é uma particularidade da história de Veloso. O censo demográfico do IBGE de 2010 mostrou que no país havia 20,3 milhões de pessoas com deficiência ocupadas. Dessas, 27,4% trabalhavam por conta própria --percentual maior do que o registrado no total da população (20,8%). 
Em São Paulo, levantamento feito pelo Sebrae mostra que entre deficientes há mais empreendedores que entre pessoas sem deficiência.
De 23% a 27% das pessoas ativas economicamente com alguma deficiência no Estado são empreendedores, o índice é mais baixo entre deficientes visuais e mais alto entre deficientes físicos. Entre os paulistas sem deficiência, a taxa é de 21%

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